As perguntas, para os curiosos, está aqui.
Beijo de Nariz.
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Oi queridos leitores.
É com muita decepção que hoje venho aqui contar o que tem acontecido nas últimas semanas.
Como vocês sabem, minha mãe estava procurando carona para trazer uma gata abandonada de um sítio em Peruíbe, litoral de SP, para Porto Alegre.
Pois bem, me acompanhem nessa aventura e me digam se estou errada.
Minha mãe voltou de São Paulo no dia 22 de agosto. Na semana seguinte resolveu que traria a gata para cá. Começou então um "manda email pra cá manda email pra lá", até que alguém que mora na mesma cidade se prontificou a ajudar.
Óooooootimo, já temos então a carona!
Mamãe então ligou para a companhia aérea a fim de saber exatamente como é feito todo o procedimento do embarque do animal e quais eram os requisitos necessários.
Resposta: é necessário a carteira de vacinação em dia (com a vacina de raiva datada de no mínimo 30 dias antes da viagem), um atestado de saúde emitido por veterinário, e reserva da passagem com no mínimo 48 horas de antecedência.
Problema 1: a gata é de rua, ela não tem carteira de vacinação. É como esperar que um catador de papelão tenha consigo a sua certidão de nascimento.
Solução 1 para o problema 1: vacinar a gata.
Obstáculo para a solução 1 do problema 1: o ciclo de vacinas é mais ou menos assim: antes de vacinar o animal, ele precisa ser desvermifugado. Após o remédio de vermes espera-se de 3 a 4 dias para dar a primeira dose da vacina. Após a primeira dose, espera-se 30 dias para dar a segunda dose, e após a segunda dose espera-se mais 30 dias para dar a terceira e última dose. Passados 30 dias da última vacina é que o animal pode então receber a vacina de raiva. Após 30 dias da data da vacinação é que ela pode finalmente viajar de avião.
Resumindo: a gata estaria apta a viajar de avião daqui a 5 meses. Entre uma vacina e outra, onde ficaria a gata? Uma vez capturada e vacinada, ela com certeza fugiria e nunca mais voltaria devido ao trauma, então devolvê-la ao sítio esperando que ela apareça lá para tomar a próxima dose ficou fora de questão.
Deixar um animal, que está acostumado com a liberdade, trancafiado numa gaiola por 5 meses é desumano, fora o custo altíssimo de diárias que se somariam. Então, deixá-la internada numa clínica ficou fora de questão também.
Casa de passagem ninguém quer, ninguém pode. Ficou fora de questão também.
Solução 2 para o problema 1: falsificar uma carteira de vacinação, datá-la de 5 meses atrás, doar as vacinas para animais necessitados e somente colar os selinhos das vacinas na carteirinha falsa. Quando a gata chegasse em Porto Alegre ela seria devidamente vacinada, castrada, tratada, etc.
Obstáculo 2 para a solução 2 do problema 1: a veterinária não topou.
Tudo bem, não queremos de maneira alguma prejudicar um profissional, queremos apenas agilizar a viagem da gatinha.
Daí mamãe pensou com seus botões..."Peraí, se eles precisam de uma carteira de vacinação, EU TENHO uma carteira de vacinação EM DIA! A da própria Branquinha!"
Sim, a minha carteirinha de vacinação seria enviada pelo correio para a protetora, e esta levaria a gata (que por coincidência é branca) na veterinária com a carteira de vacinação somente para pegar o laudo.
Próximo obstáculo: a veterinária não topou. Disse que somente daria o laudo se ela mesma vacinasse o animal.
Mas peraí... então se EU tivesse que viajar hoje, com minha carteira de vacinação em dia, eu teria que ser NOVAMENTE vacinada? Overdose de vacina??? Opa opa opa..isso está me cheirando a má vontade!
Mamãe liga para a nossa veterinária para esclarecimentos. Informa a doutora: "Se você traz a gata X com a carteira de vacina da gata Y não temos como saber se aquela gata é ou não é a gata da carteira de vacinas. Afinal somos todos "SRD"."
Então pensamos em outra solução: pegue a gata, pegue a minha carteira de vacinação e leve à OUTRO veterinário que não saiba da história e deu! A gata branca chamada Branquinha com carteira de vacinação em dia está apta a viajar. Óooootimo!
Próximo obstáculo: a cidade é pequena, a protetora é conhecida por lá, tem uma ong, um vet fala pra outro, e lá se vai a credibilidade da protetora. Fora de questão.
Entre um email e outro, entre uma solução e outra, entre um obstáculo e outro, o tempo ia passando.
Daí mamãe pensou: vou eu mesma pegar um avião, pego a gata, vou para São Paulo, e antes de embarcar passo numa veterinária qualquer e pego o laudo. É arriscado, mas pode dar certo.
Enquanto isso no sítio, a gata some do mapa. Descobre-se na outra semana que tem uma cadela chamada Princesa, sem dono, que resolveu se adonar da casa onde a gata fica. Então enquanto a Princesa está lá a gata não pode ir. Detalhe: a cadela é conhecida como "matadora de gato"...
Quando enfim, algumas semanas depois a cadela foi dar uma volta em outras bandas e a gata enfim pôde voltar ao sítio...
Próximo obstáculo: a grana encurtou. Então mamãe teria que esperar entrar um dinheiro extra para as passagens de ida e volta dela + gata + despesas para que isso fosse possível.
Nesse meio tempo, mamãe recebe um email de outra protetora que mora em Santos. Muito solícita, se ofereceu para levar a gata até SP sem cobrar nada, somente o estacionamento do aeroporto. Maravilha, ótima notícia para quem está com a grana curta!
Situação explicada, essa protetora tem uma veterinária que pode dar o atestado. Óoooooooootimo!
Obstáculo seguinte: a veterinária teve bebê recentemente e está de licença maternidade, mas voltará "em breve".
Enquanto isso no sítio...a gata dá cria! AAAAAHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!
Ela já estava grávida quando mamãe foi lá, mas de tão magrinha ninguém sabia!
Onde ela escondeu os filhotinhos?
Só ela e Deus sabem...
Num sítio onde para qualquer lugar que se olhe é mata fechada a perder de vista...só ela e Deus mesmo.
Mais uma semana se passa, e agora a gata vem visitar meus avós no sítio com um machucado no pescoço!
Email vem email vai, tomamos a incerta conclusão de que provavelmente o ferimento foi provocado pelo próprio gato macho quando cruza com a gata, que agarra-a pelo pescoço para imobilizá-la. Em outras palavras, a gata deve estar no cio novamente. Ou ela pode ter sido atacada por outro animal, vai saber.
E agora que não sabemos onde estão os gatinhos, como vamos simplesmente pegar a mãe e abandonar os gatinhos assim? Fora de questão.
Então meus amigos, resumindo: há 2 meses atrás minha mãe queria botar a gata num avião e cuidar dela quando ela chegasse aqui.
Dois meses se passaram, 5599300343 emails foram enviados e recebidos, e a gata agora está no meio do nada com o pescoço sangrando e sabe-se lá com quantos filhotes para amamentar.
Tudo isso porque é necessário que um animal de rua tenha uma carteira de vacinação em dia para ser colocado numa caixa de transporte no compartimento de cargas do avião por uma hora e 40 minutos, onde ficará isolado de qualquer contato humano durante todo o período.
Sabe o que eu acho? Que se eu quisesse transportar cocaína de um Estado para outro seria mais fácil.
Que centenas de pessoas com todo tipo de doença viajam de avião diariamente, onde respiram o mesmo ar isolado por algumas horas e nem por isso têm que apresentar nenhum tipo de atestado de saúde.
Que algumas regras simplesmente não têm fundamento algum e só servem para que outras pessoas fiquem incapacitadas de ajudar a quem precisa.
Um ser humano pode pegar uma menininha de 12 anos de idade do Norte do país, viajar com ela até o Sul sem que ninguém os impeça. Ah, e olha só, esse ser humano acabou de vender a menina para outro ser humano que a usará como escrava sexual. Mas eles podem viajar de avião. Esse tipo de gente sempre arranja alguém que falsifique documentos para eles.
Agora um gato abandonado que enfim encontra uma pessoa disposta a ajudá-lo e a dar-lhe a qualidade de vida que ele merece...ah não...isso não pode!
Então estamos aqui, de mãos atadas. E a gata lá, perdida, apavorada, machucada, e ainda por cima com cria no meio do mato.
Teria sido tão simples tê-la trazido pra cá 2 meses atrás, quando ela ainda não tinha dado cria no meio do nada, antes de ter sido atacada.
Mas não, e tudo por causa de um raio de um atestado inútil que diz que um animal é sadio para viajar e não vai contaminar ninguém. E mesmo que o bicho tivesse se babando de raiva, a caixa de transporte evita que qualquer ser humano tenha contato com o animal. Ah sim, eu já disse que o animal viaja no compartimento de carga, onde nenhum ser humano viaja junto certo? Então ele tem realmente muita coisa para contaminar!
Vocês, malditos seres humanos.
Nunca se esqueçam de que se estamos aqui hoje, a culpa é de vocês!
Seres humanos matam uns aos outros para roubarem um par de tênis.
Traem uns aos outros como se confiança não fosse importante para um relacionamento.
Machucam todos ao seu redor, sem o menor remorso.
Seres humanos são fúteis e falsos.
Não. Não quero ser tratada como um ser humano, obrigada.
Mas depois fiquei pensando...
Minha mãe me trata como um ser humano.
Não desses que existem por aí, mas como um ser humano no sentido...qual sentido mesmo? Um "sentido mais humano"?
Por exemplo:
Minha mãe me dá beijo de boa noite. Em todos nós. Todas as noites.
Minha mãe fala comigo como se eu fosse uma amiga fofoqueira. Me conta tudo. Me explica tudo como se eu fosse uma menininha de 6 anos.
"Filha, não pôe a pata aí que tá quente!"
"Filha, não sobe aí que é perigoso!"
"Olha, mamãe vai sair e já volta, viu?"
"O papá tá gostoso?"
Eu sou tratada como um bebê.
Eu tenho cama. Sou tapada com cobertor quando está frio. Ganho beijo. Sou abraçada.
Minha mãe respeita minhas opiniões como se eu fosse um ser humano.
Ela pode não concordar com algumas coisas, mas ela respeita.
Por exemplo, ela discorda que eu possa comer de tudo. Mas ela respeita que eu tenho vontade e curiosidade de experimentar o que ela come. Então ela me dá um pedacinho bem pequeno. "Só um pedacinho" diz ela.
Acabam sendo 3, 4 pedacinhos. Levo ela assim, na conversa mole.
Alias, no miado.
Eu sou tratada como parte da família.
Tenho data de aniversário.
Sou tão amada quanto qualquer outra pessoa da família.
Sou tão mimada quanto.
Por exemplo, minha mãe dorme torta porque nós 5 vamos para a cama quando ela se recolhe. Depois de 10 minutos ela quer se virar e não dá, porque tem um embaixo de um braço, um colado num lado da perna, um no meio da outra perna, um perto do pescoço e um na barriga. Daí ela vai se entortando pra mudar de posição sem mexer nenhum dos gatos. Um dia eu queria filmar uma noite de sono dela.
Ginástica pura! Quem tem gato sabe.
Minha mãe me escuta. Quando eu chamo ela vem, que nem um cachorrinho.
Minha mãe pode estar morrendo de vontade de ir ao banheiro, mas se eu tô no colo dela bem acomodada, ela segura até onde não dá mais. Como se fosse uma reunião importante sem hora pra acabar.
Minha mãe me apresenta para as visitas.
"Vem cá filha, vem ver a tia."
"Tia, essa é a Branquinha." fala ela com voz de criança de 10 anos.
As vezes ela pôe palavras na minha boca.
"Ai tia não me aperta!"
"Ô moça, cuidado que eu tô braba!"
Minha mãe sabe tudo que eu quero. Tudo que eu preciso e em que hora.
Sabe quando eu quero carinho, quando eu tô de manha, quando eu tô com fome.
Ela sabe quando eu tô com preguiça, quando eu tô dengosa, quando eu tô de mau humor.
Acho que eu sou um ser humano sem a parte ruim.
Acho que todo animal é.
Nós nos apegamos às pessoas.
Nós fazemos as pessoas felizes.
Um animal completa a vida de uma pessoa.
Nós sabemos quando as pessoas estão tensas, tristes, com medo.
Embora seja o animal que ganhe colo, é a pessoa que o segura que está sendo amparada por ele.
Então, se você me perguntar se eu quero ser tratada como um ser humano, talvez eu tenha sido tratada como um desde que nasci.
E amo.
Porque animal não é brinquedo.
Animal não é "coisa" que alguém "possui".
E se você quiser algo que te obedeça, compre um robô ao invés de um cachorro.
Assim quando você enjoar, tire a pilha e guarde o robô no armário, ao invés de botar seu cachorro rua afora.
Porque o seu cachorro é uma vida. Que até então dependia de você. Como uma criança.
E assim como você, ser humano, sente falta de um ente querido quando esse morre, nós animais também sentimos quando somos expulsos da sua vida. Especialmente sem um motivo válido.
Aliás, não existe um motivo válido o suficiente para se desfazer de um animal.
E assim como uma criança, o animal precisa de cuidados e supervisões.
Não atravesse a rua sozinho!
Não o deixe sem supervisão quando o forno está ligado! etc...
Hoje venho aqui para falar de uma coisa muito importante!
A RAÇA!
Mamãe tinha comprado toda a ração que a gente precisava pro mês na semana passada. Daí dois dias depois o moço da ração manda um email com a seguinte promoção:
" Na compra de qualquer Royal Canin 7,5 Kg ganhe grátis uma Enciclopédia (do gato ou do cachorro)."
A enciclopédia do gato são dois volumes. Lá vai ela recolher as moedas do cofrinho e me comprar dois sacos de ração para ganhar os dois volumes, antes que acabe a promoção. (Sorte que eram só dois volumes, porque o do cachorro são cinco!)
Bom, enfim, mas o assunto não é esse.
O assunto é que ela descobriu que nós somos todos de raça.
A princípio ficamos todos espantados. "Nós, de raça? De onde ela tirou isso?!"
"Onde tá escrito que eu sou de raça? Cadê? Quero ver também!"
E lá foi mamãe, folha por folha, provar que nós, vira-latas de carteirinha, temos SIM raça.
Dá uma olhada.
Vamos pegar, por exemplo, o Panda.
O Panda pode ser um gato da raça "Siberiano".
Ou um "Persa" que não bateu a cara na parede quando era nenê, por isso a falta do focinho achatado.
Ou até, quem sabe ele seja um "Gato das Florestas Norueguesas"!
Olha! Quase igual!
E se nenhuma das alternativas acima colou, ele pode ser ainda um simples gato da raça "Europeu".
Aí fomos ver a raça da barata-branca, a Lila.
Claro né, "Angorá Turco" de cara!
Oi gente!
Creeedo, tô quase um mês sem escrever! Que vergonhaaaa!
Mas olha, foi culpa da minha mãe que, por causa do atraso da reforma, acabou atrasando todo trabalho dela também.
Mas agora ficou tudo em ordem e eu vim correndo dar uma pulinho aqui pra dizer como andam as coisas nesse apartamento pequeno e super lotado.
Bom, a reforma, graças a Deus e aos pedreiros, acabou.
Pra você entender o que a minha mãe fez, vou ter que mostrar (desculpa mãe!) como era antes.
Anos luz antes de eu pensar em nascer, a sala deles era assim:
(Olha a mana Kelly lá!!!)